11 agosto 2005

Quer ver o outro lado? Faça alguma coisa!



O texto da postagem anterior, da fonoaudióloga Mariângela Zulian, reforça em muito o tipo de tratamento que estou fazendo, bem como o que vivenciei e estou vivenciando na minha terapia, com a Fga. Priscilla Silveira. Apesar de ser um artigo escrito em 1989, portanto há 16 anos, muita coisa nele é importante ser refletida.

Muito possivelmente seja comum entre todos os gagos, na infância, no aparecimento das primeiras disfluências, a presença de pessoas que tentando ajudar, acabaram por fazer o inverso. Quantas vezes não fomos solicitados a falar direito? Ou a respirar e/ou pensar antes de falar? Infelizmente, naquela época não sabiamos o que era certo ou errado, não podíamos mandar essas pessoas calarem a boca e parar de falar besteira. Com isso fomos desenvolvendo um padrão de falar equivocado. Nosso cérebro acostumou-se a comandar uma fala truncada, com bloqueios, com força, cheia de tensão. Nessa fase também, com as interpelações das pessoas, passamos a ter 'o outro' como alguém que avalia a nossa fala, que nos repreende. Padrão que até hoje é comum em nossas mentes. Não vamos a uma padaria porque imaginamos que o padeiro vai nos julgar, nos criticar, nos zombar. Não fazemos um curso superior com um 'pré-medo' das apresentações em sala de aula. Desistimos muito de nossos sonhos por causa dos outros. Particularmente, recordo-me de uma situação que recusei um emprego de comprador, de um hotel, porque considerava aquela profissão inviável para mim. Realizar constantemente ligações, negociar preços, solicitar mercadorias, parecia-me impossível. Duvidei do meu potencial, principalmente por causa da fala. Julgava-me incapaz como falante, incapaz de falar bem.


Sempre antes de falar, nas situações que julgava mais críticas, eu planejava o que iria dizer, imaginando até o que o ouvinte iria responder, para assim já ter algo para uma segunda fala. Acreditava que iria gaguejar, ficava nervoso por causa disto, tensionava meus músculos, perdia o controle sobre mim, sobre minha fala. Não sabia eu que com todas essas crenças negativas, com todos esses comportamentos tentando controlar a fala, eu nunca iria realmente conseguir controlá-la. Porque a fala é um movimento espontâneo. Para sair direito, não tem que ser controlada.


Falar isso para pessoas que não fazem terapia fonoaudiológica, ou que não são capazes de se auto-avaliar (eu também não era) é algo bem utópico, praticamente impossível. Muitos dizem que é difícil, realmente é. Mas é difícil se não estamos com as armas corretas nas mãos. Difícil mesmo é querer falar e não conseguir. Difícil é ser chacotado a todo momento que fala. Difícil é calar-se na hora que quer participar. Isso sim é uma barreira gigantesca.

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