15 novembro 2005

Relatos de um Paciente - Parte II

continuando...

Minha Terapia (Parte II)

Como, pois, eliminar estes hábitos de tensão, intensificados pela não aceitação e pelo desequilíbrio emocional? Os dois pontos primeiros me foram bastante fáceis de compreensão e de modificação, mas o terceiro só há pouco tempo eu o compreendi. Mas, ainda era muito nebuloso e eu só compreendia e experimentava em algumas situações. Os conteúdos com que devia trabalhar não eram mais palpáveis e nem externos, mas apenas sentimentais, espirituais e internos. Por isso me foram muito difíceis de compreensão e de análise e só foram compreendidos quando muito trabalhados na terapia.
Comecei a trabalhar-me mais com relação a este ponto. Foi um trabalho intenso na análise das situações e de seu significado para lidar com o meu medo. Tudo me trazia medo. Descobri que o meu medo provinha da fantasia da realidade. Esta, por sua vez provocava-me a tendência de antecipar as situações e com isso a ansiedade. Analisei detalhadamente como ocorria a ansiedade e vi que provinha de medos que minha fantasia criava. Lutei então para me livrar das fantasias e quis conhecer toda a realidade de meu corpo e a realidade que me cercava. Percebi que tinha toda uma idéia e uma concepção errada das coisas que me cercavam durante toda a minha vida. Com o conhecimento da realidade mais acentuado, a fantasia e a ansiedade foram diminuindo progressivamente; assim também o medo. Desse modo comecei a sentir a vida como ela realmente é, pois comecei a viver o momento presente com coisas reais e já comecei a me identificar como pessoa e a tomar uma posição diante da vida. Minha vida começou a ficar mais clara e meu modo de viver também foi tomando novos rumos. Mas nesse meio tempo de conquistas internas ocorreram muitas operações tartarugas, isto é, uma parada, talvez acomodação, para depois haver uma conscientização maior de todas as descobertas que eu fizera.
A tensão do corpo já tinha diminuído muito e eu percebia-me sob novos horizontes e novos aspectos da vida. Porém as descobertas que eu havia feito não eram todas, ainda me restava um longo caminho, talvez, de uma vida toda.
Percebendo a realidade sob novos aspectos e sem emoção, quis trabalhar-me mais especificamente com respeito à fala. Vi que enquanto falava o que ocorria em mim era realmente alteração da tensão, naturalmente muitas vezes influenciada pela emoção inadequada e não-aceitação da gagueira, que estavam já sendo trabalhadas. Passei então a combinar todas as descobertas que havia feito com respeito à tensão, às emoções e aos hábitos de fala, para modificar minha fala e meus gaguejos. Para isso tive que conscientizar-me de todo o meu mecanismo de produção de fala e também analisar como deveria ser o seu funcionamento normal.
A verbalização é um mecanismo que serve para a comunicação de sentimentos, de palavras, de sons e de conceitos, mas ela, em si, não deve trazer nenhuma alteração da tensão e não pode, habitualmente, ser tão alterada pela emoção. Percebi que eu sou o responsável pela inadequada alteração da tensão e pelo inadequado uso da emoção na minha comunicação. Por isso o que deveria ser feito era:
1) conscientizar-me de minha realidade, percebê-la como distorcida, lidar com minhas emoções de uma forma mais equilibrada;
2) perceber meu corpo, reconhecer as alterações de tensão e as ações musculares inadequadas e;
3) partir para as modificações.
Minha atitude interna aos poucos foi se firmando e eu fui começando a perceber toda a inadequação do meu posicionamento anterior. Descobri também que na comunicação existiam dois papéis, o de receptor e o de emissor, e para que a comunicação fosse boa, era preciso assumir-los integralmente. Percebi que a antecipação que ocorria pela fantasia, me tirava da realidade e o medo aparecia e interferia em meus papéis de emissor e receptor. Assumindo todos estes papéis na íntegra, minha comunicação se tornava uma participação e um aproveitamento de novos conteúdos e novas descobertas. Vi também que se eu assumisse todos os meus papéis de receptor e de emissor adequadamente e "controlasse" todos os distúrbios e desequilíbrios internos, eu permaneceria vivendo o presente da situação e não ocorreria mais a fantasia e os medos exagerados
e infundados.

continua...

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