Os textos foram retirados de um capítulo do livro "Fonoaudiologia: recriando seus sentidos", organizado por Maria Consuêlo Passos, quem desejar adquiri-lo, basta clicar no título ou na imagem ao lado e realizar a compra, da qual este blog não tem qualquer relação capital.
Para alguma citação bibliográfica, favor buscar as referências corretas.
"1 - Pelo estudo da relação da gagueira com o movimento da consciência, a gagueira é uma manifestação que encerra características bastante peculiares do ponto de vista da subjetividade que a acompanha para que possa ser pensada, simplesmente, como um que era um fenômeno praticamente sem tensão, na infância e que evolui linearmente para quantidades crescentes de tensão, por condições que estariam circunscritas apenas ao organismo do indivíduo que a manifesta;"
Para Friedman, gagueira é muito mais do que tensão. Gagueira envolve identidade, consciência, subjetividade. A movimentação da consciência diz respeito à maneira paradoxal com que os sujeitos que se consideram gagos vivem suas falas. Os discursos dos sujeitos estudados pela auutor evidenciaram um padrão nesta movimentação. "Truques e inúmeros esforços para não gaguejar ou para falar bem, sentimentos negativos em relação ao ato de fala e antecipação do ato de gaguejar" foram encontrados em todos os sujeitos da pesquisa, bem como nos mais de quinze/vinte anos de clínica da referida fonoaudióloga. A partir disso, ela concluiu que os "indivíduos prevêem o gaguejar, tentam de tudo para evitá-lo, sabem que irão gaguejar, tentam falar bem, enquanto acreditam que não o farão." Esta lógica paradoxal, de tentar falar bem e não acreditar nesta capacidade, é onde a gagueira localiza-se. É onde ela se perpetua. É o que gera toda a tensão e quebra o espontâneo da fala. Algo que é espontâneo não pode ser tentado, visto que rompe-se a espontaneidade. Ninguém (com exceção dos bebês), tenta andar. Mas, se for pedido que você ande em cima de uma linha tênue, você terá muitas dificuldades.
Quando na infância, a criança gaguejava praticamente sem tensão. No entanto, com as intervenções negativas dos adultos, as crianças passaram a perceber que havia algo de errado com suas falas, com isso passaram a se preocupar com a falar, a tentar falar do modo idealizado pelos adultos e a se identificarem com alguém que "não consegue falar bem". Alguém que tem que "pensar antes de falar", que tem que "falar mais devagar", que tem que "ficar calmo", que "respirar antes de falar", entre outras intervenções que os indivíduos com gagueira ouvem em sua infância. A criança teve sua identidade formada e a lógica paradoxal tornou-se presente. O tratamento fonoaudiológico deve ser voltado para quebrar esta consciência. Os resultados são altamente satisfatórios.
(continua)
2 comentários:
Fico feliz que você tenha voltado. Você faz muita falta, viu?!
Um abraço,
Nadia Azevedo
Nadia, muito obrigado pelas palavras. Juro que fiquei extremamente lisogeado, principalmente por ter vindo de você: uma das personalidades do estudo da gaguueira.
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