Retomando a discussão a respeito do termo gagueira, creio que esta nomenclatura está bastante estigmatizada socialmente. É motivo de personagens cômicos na TV, de risos e zombarias na sociedade. Muitos sujeitos que tem gagueira, não pronunciam a palavra. Eu, por exemplo, não dizia que tinha gagueira ou que era gago. Eram duas palavras muito pesadas para mim.
Sílvia Friedman, acreditando que esta será a palavra que definirá por mais um bom tempo este tipo de patologia, propõe a adjetivização do termo. Ela acrescenta os adjetivos natural e sofrimento à palavra gagueira. Estas novas nomeações servem tanto para desmistificar o seu valor, quanto para diferenciar no tipo de tratamento.
A gagueira natural pode ser vista como uma condição natural da fala das pessoas. Tal naturalidade deve-se a pelo menos três fatores: motor, cognição e emoção. Sabemos que a fala desenvolve-se através do trabalho conjunto desses três determinantes. Da soma desses fatores, naturalmente pode haver rupturas, falhas, disfluências. A autora destaca também que, em virtude das múltiplas situações que esses fatores venham a se somar, não se pode pré-definir o que é normal e o que é anormal em relação à gagueira. O mais importante é "entender a produção da fala a partir das contingências motoras, emocionais e cognitivas que lhe são peculiares com a mente livre de preconceitos" afirma Friedman. Desta forma não se desumaniza a fala, não estigmatiza a gagueira baseando-se em idealizações sobre o que é falar bem ou normal. Este dogma estigmatizante gera fortes marcas na personalidade daqueles que passam a ser rotulados como gagos. Quebrar este estigma é particularmente importante para a sociedade, a qual muitas vezes passa a rotular uma criança em razão de algo que seria natural da sua cognição e emoção, por exemplo. A gagueira natural numa criança pode evoluir qualitativamente para a gagueira-sofrimento, devendo ser tratada. O foco principal do tratamento deverá ser aquele que rotula a fala da criança como gaguejante, para que a aceite, bem como saiba o que fazer para ajudar.
Por gagueira-sofrimento entende-se a que possui tensão. Aqui o indivíduo já tem consciência de que sua fala não é aceita e que deve "fazer de tudo" para falar da maneira idealizada pela sociedade. Porém, cada vez que tentam "falar bem", utilizando-se de truques (trocar palavras, por exemplo), menos conseguem falar do modo desejado. Esta situação gera cada vez mais gagueira, ocorre a identificação do sujeito com o rótulo da sociedade, o qual fará com que, em outras situações comunicativas, a tensão esteja presente. Muitos estudiosos afirmam: "quanto mais se tenta falar bem, menos se consegue fazê-lo". Instalada esta condição paradoxal, forma-se um ciclo vicioso. O indivíduo quer falar bem, mas ao mesmo tempo não acredita nas suas competências para fazê-lo (Friedman).
É interessante notar que se não houvesse a idealização da sociedade, talvez tivéssemos pessoas disfluentes, mas não com gagueira-sofrimento. Está aqui uma das importâncias dessa adjetivização. A população tendo o conhecimento que é normal gaguejar, passará a interagir de modo diferente com a criança (principalmente!) que apresenta uma fala disfluente. Por este motivo que estou tocando tanto neste assunto: É PRECISO DESBANALIZAR O TERMO GAGUEIRA.
Um comentário:
olá, gostei do que vc falou sobre gagueira e sofrimento, sei o que é isso e ainda sofro privações em sociedade. houve tempo que gostaria de não falar mais.muito bom sua materia e muito bom o que vc falou dos meios de comunicação que só fazem atrapalhar muitas vezes.
kjs-30@hotmail.com
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