A fluência não deve ser nosso objetivo final, pois se o for, fracassaremos, mais cedo ou mais tarde. Para alcançarmos a "fluência" devemos nos preocupar muito mais com o meio-pelos-quais, do que com o fim. Quem se preocupa com o fim (com a fluência), dificilmente chegará lá. As nossas posturas, nossas crenças, nossos pensamentos, nossos comportamentos é que devem ser trabalhados e modificados. "Consertando-se" isso, o objetivo final pode ser alcançado mais facilmente, ou pelo menos a gagueira deixará de ser um sofrimento.
O indivíduo que está aprendendo a andar de monociclo, em virtude do medo decair que o domina, instintivamente estica a cabeça para trás, o que perturba o equilíbrio e provoca uma queda inevitável. Para andar de monociclo é preciso perder o medo de cair, posicionar a cabeça para frente e pra cima e forçar as nádegas para baixo. Agindo-se dessa forma, voltando-se para os meios-pelos-quais pedalar o monociclo, consegue-se pedalá-lo por longos trechos. Caso o pensamento do indivíduo estivesse focado em pedalar o veículo, fatalmente nunca conseguiria.
A partir deste exemplo, é possível traçar um paralelo com a gagueira. O medo de cair e colocar a cabeça esticada para trás faz o indivíduo cair. Ter medo de falar com pessoas, imaginar que vai gaguejar, ficar nervoso por antecipar a situação, tensionar os músculos, criar truques para tentar falar faz a pessoa gaguejar. É preciso não ter medo para falar, não ficar nervoso, não tensionar os músculos na intenção de não gaguejar, não criar truques para tentar falar. Muitas dessas coisas o gago, por ter passado por situações vexatórias, cria para tentar falar melhor e defender-se de futuros risos e contratempos. Só que isso é meio paradoxal, porque em muito a disfluência é proveniente desses atalhos labirínticos. O ato de falar deve ser o máximo espontâneo. É assim com nossos amigos, familiares, namoradas(os), vizinhos, enfim, com todos os "outros". Devemos nos preocupar com os meios-pelos-quais, com os sintomas da nossa gagueira e não com o fim, e não com a fluência.
Obviamente eu não sei andar de monociclo. Li toda aquela teoria sobre ele no livro que já mencionei aqui (O Aprendizado do Corpo - introdução à técnica de Alexander) e fiz a minha analogia. Será que faz sentido? Vocês têm as suas opiniões. Depositem-nas!
2 comentários:
Gostei demais do primeiro parágrafo deste texto!
É nisso que eu acredito: primeiro a busca do equilíbrio, em todos os aspectos da vida, para, conseqüentemente, adquirirmos fluência (o que não significa, necessariamente, deixar de gaguejar).
Valeu, Wladimir!
Wladimir, sei que esse seu texto é muito antigo, mas é meu preferido. Você foi muito feliz na analogia que fez. Estou sentindo falta dos seus textos. Volte a escrever!
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