21 março 2006

Mensagem de Charles Van Riper

A mensagem abaixo foi transcrita (pelo amigo Renato Cruz, que gentilmente a enviou para mim) da fita "O Que Precisamos Saber Sobre a Gagueira", ministrada pela Doutora Cláudia Regina Furquim de Andrade. Trata-se de uma carta do Doutor Charles Van Riper, destinada a outros indivíduos que, assim como ele, também são gagos. A mensagem é bastante interessante, pois é um relato vindo de uma pessoa que sabe o que é conviver com a gagueira e dessa foma serve de exemplo para muitos. Sobreviveu a um suicídio e tornou-se um dos maiores estudiosos de todos os tempos, da gagueira. Quem desejar conhecer um pouco mais sobre Charles Van Riper pode explorar esta página do GATA. Aqui também estão disponíveis (creio que) todos os trabalhos bibliográficos dele.

Eis a mensagem de Charles Van Riper:

Quando eu era um adolescente, há quase setenta anos, o futuro me parecia muito negro. Eu era um gago muito severo, com bloqueios muito fortes e muito longos, acompanhados por contorsões faciais e movimentos de cabeça que, nessa situação, não só provocava a rejeição dos ouvintes, mas também tornava minha comunicação quase impossível.

Eu já tinha feito terapia num instituto pra gagueira e, durante algum tempo eu recuperei, eu tive um pouquinho de fluência. Mas eu tive uma recaída e foi nessa recaída que eu vi a minha gagueira pior do que ela era no início. Então, isso me levou a pensar que eu não tinha saída, que tava tudo acabado. A minha vida, recitar, ler na escola, era tão frustrante que tanto os meus colegas de classe quanto a minha professora nunca me pediam pra ler, nunca me pediam pra recitar, nunca me deixavam participar de atividades de comunicação. Os estranhos me olhavam tentando falar e deviam ficar pensando: “esse cara ou é epiléptico ou é louco”! Aqueles anos foram muito longos e muito difíceis.

Mas a pior parte deles, desse anos negros, foi quando eu fui me sentindo sem esperança e completamente desamparado. Como é que eu ia arrumar um emprego, como é que eu ia me sustentar daquele jeito que eu era. Como é que eu ia casar, encontrar uma família... eu tava completamente desesperado. Eu pensei em suicídio, até tentei uma vez, mas falhou. Se nessa fase alguém tivesse me dito que a fortuna ia olhar pra mim e que eu poderia ter uma vida maravilhosa, eu teria rido dessa pessoa. Mas, apesar da minha gagueira, ou mesmo, por causa da minha gagueira eu tive exatamente essa vida.

E você também pode!

Agora, aos oitenta anos, eu posso olhar pra trás, olhar aqueles anos todos e ter uma sensação que eles fizeram realmente parte da minha vida, que eles foram fundamentais. Eu tive um trabalho fascinante, eu me tornei um dos pioneiros na minha profissão, eu me casei com uma mulher maravilhosa, tive três filhos e nove netos, e tudo que o amor, que as pessoas e que uma família poderiam me dar. Eu ganhei um monte de dinheiro com os vários livros que eu escrevi. Eu participei de filmes, vídeos de tv, fiz aparições em rádio, fiz conferências pra auditórios enormes. Eu me tornei, tanto no meu país quanto em países estrangeiros, uma referência sobre o assunto. Eu tive tudo o que eu quis e ainda mais. Hoje, na minha idade, eu me sinto feliz e pleno. Aí, claro, todo mundo deve estar pensando: “Ah, mas é porque você ficou bom da sua gagueira, ...lógico que a gagueira não ia dar essa vida toda que você teve...” Não! Eu gaguejei todos os dias da minha vida! E acredito que eu seja um daqueles gagos incuráveis. Cada um de nós tem o seu próprio demônio: o meu é a gagueira.

E talvez o seu também!

Eu achei que, uma vez aceitando o problema e aprendendo a conviver com isso, não evitando, ou não escondendo, ou não tornando mais difícil através da tensão ao falar, o meu demônio ia me esquecer. E foi exatamente isso que aconteceu. Se eu tinha medo de gaguejar eu falava de qualquer jeito. Eu parei de exigir de mim mesmo que parasse de gaguejar e eu aprendi, com isso, a gaguejar facilmente. E me tornei fluente o suficiente pra fazer tudo isso que eu já disse pra vocês.

Eu conheci, ao longo da minha vida, centenas de gagos, que viveram igualmente felizes, vidas satisfatórias, apesar de serem gagos, entre eles: cientistas, professores, advogados, profissionais da mídia. Uma das características que nós temos em comum foi que nós não deixamos que a gagueira evitasse a nossa comunicação, nós não deixamos que a gagueira nos impedisse de falar.

Então, existe esperança pra você, meu amigo!


2 comentários:

Anônimo disse...

Waldimir...

Muito boa esta mensagem, eu já tinha recebido esta mensagem da minha fono e foi para mim o verdadeiro exemplo, que nós todos devemos seguir e a tempo atrás eu já tinha colocado esta mensagem no grupo gagueira... vc poderia colocar de novo meu amigo, muita gente ainda não leram...
Um grande abraço e continue assim...

Magno;
João Pessoa/PB .

Anônimo disse...

Pow Wladimir, texto 10 que vc achou...parabens