06 julho 2007

A Manifestação da Gagueira (parte V)

"5 - A lógica paradoxal que move a gagueira, por tudo quanto dela foi dito até aqui, permite-nos entender porque quanto mais uma pessoa tenta falar bem, mais ela gagueja e porque isso é algo ligado à presença dos outros. A dialética entre subjetividade e a objetividade que caracteriza o comportamento de gaguejar, ou seja, os conteúdos latentes e o que eles provocam quando em mútua determinação com a atividade de falar, revelam que a gagueira não é um problema da fala, mas um problema da identidade do sujeito que luta para não produzir um padrão de fala que prevê, ou seja, luta para não se mostrar com uma imagem estigmatizada de falante."



Este tópico, em minha opinião, é muito importante. Ele define a gagueira de maneira muito pertinente. "Gagueira é um problema da identidade do sujeito que luta para não produzir um padrão de fala que prevê". Acredito verdadeiramente que gagueira seja um problema de identidade. Já ouvi de muitos colegas que, quando sozinhos, são os melhores oradores. Esta afirmação contesta, muito bem, a relação gagueira x questões orgânicas. Caso contrário, não teria oratória perfeita, independentemente a qualquer fator o indivíduo gaguejaria. Porém, a gagueira está muito ligada à presença do outro e à subjetividade de cada indivíduo com gagueira (suas crenças, valores, posturas, pensamentos...). Estas questões latentes (implícitas), terminam por aflorarem na objetividade (nervosismo, repetição, hesitações, prolongamentos, movimentos associados...). Porém, o problema não está na fala. A fala gaguejada seria a consequência dos pensamentos (movimentos da consciência) que interferem na manifestação do espontâneo. O indivíduo prevê o gaguejar e não quer que isto acontença, acredita que não será aceito, imagina que os outros debocharão, faz uso de truques para tentar falar bem (troca palavras, utiliza-se de palavras desnecessárias...) e revelam o que não pretendiam, mas que acreditavam, e terminam por identificar-se como alguém que não fala bem, como um "mau falante". Porém, quando estão sozinhos este círculo vicioso não é criado, bem como em diversas situações (cada indivíduo tem as suas, por exemplo quando falam com animais, com crianças...) a fluência se instala e a identidade de "bom falante" marca presença.

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