25 janeiro 2008

A Mudança Desejada

"O nosso próprio livre-arbítrio pode ser a mais poderosa força a dirigir o desenvolvimento de nossos cérebros e, portanto, nossas vidas. (...) Experiências, pensamentos, ações e emoções mudam-lhe a estrutura."

Dr. John J. Ratey, 2002 - Em "O Cérebro - um guia para o usuário"



A postagem passada encerrei-a afirmando que a mudança é possível. Por experiência própria acredito muito nela. A postagem de hoje é baseada no conteúdo do livro "Mudança - Princípios de Formação e Resolução de Problemas" de Paul Watzlawick, John Weakland e Richard Fish, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Psiquiátricas, de Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos. Esta publicação é de 1977 e acredito já não está mais disponível para venda.

O título do capítulo do livro nos dá uma boa noção do seu conteúdo. " 'O MESMO REMÉDIO EM MAIOR DOSE' OU QUANDO A SOLUÇÃO VIRA PROBLEMA". Até já falei um pouco sobre isso em uma das postagens mais recentes. Agora vamos nos aprofundar mais.

Em geral, para promover alguma mudança é preciso o desvio de alguma norma. Isso se aplica também a campos como a Fisiologia, Neurologia, Física e Economia. Se estamos com frio a solução é o agasalho. Mais frio, mais agasalho. "A mudança desejada se obtém em resultado de aplicar o oposto daquilo que produziu o desvio". Porém, nem todo problema pode ser combatido com a oposição deliberada. O alcoolismo, que representa um sério problema social, se for proibido, gerará todo um mecanismo clandestino a fim de suprir tal necessidade. Para problemas desse tipo " 'a solução' contribui enormemente para agravar o problema' ". A proibição não produz a mudança desejada.

"Muitas das dificuldades enfrentadas pelos seres humanos não permanecem imutáveis. A situação pode permanecer estruturalmente semelhante ou idêntica, mas a intensidade da dificuldade e do sofrimento decorrente aumenta, especialmente se se reforçar a solução errônea", afirmam Watzlawick et al.

Os referidos autores também se referem à pornografia. Seria este um mal social? Para muitos, sim! Porém, a liberação na Dinamarca levou muitas pessoas a ridicularizá-la e a ignorá-la. Até mesmo dentro de casa podemos perceber isso quando crianças (pré-adolescentes) são proibidas de ver revistas, filmes adultos. Tal proibição tem um enorme potencial de gerar nos pré-adolescentes uma enorme vontade de rompê-la. Planos serão arquitetados para descobrir o que é proibido. A repressão não somente é o pior dos males, como poderá tornar-se o próprio problema, já que sem a "solução" não haveria problema. Dentro de casa, o diálogo, o acolhimento, a orientação seriam atitudes mais facilitadoras, do que a proibição geral e irrestrita.

O que podemos perceber em diversas situações problemáticas é que "o mesmo remédio em maior dose é a receita para a mudança, e esta solução é o que constitui o problema". Com freqüência ocorre nas famílias a tentativa de gerar determinados sentimentos em seus filhos. Os autores nos mostram que alguns pais ao perceberem que seus filhos estão com alguma tristeza ou irritação no semblante, ordenam que estes dirijam-se aos seus quartos e só retornem quando tiverem um sorriso no rosto. Diante dessa situação, a criança tende a sentir-se culpada por não se sentir como deveria, a fim de tornar-se aceita e boazinha, ou até "sentir ódio estéril em face do que lhe estão fazendo", somando-se à lista dos sentimentos que os pais não gostariam que os filhos tivessem.

Uma outra solução equivocada é a tentativa de forçar-se de algum modo a dormir diante da falta de sono. Este é "um fenômeno que só pode ocorrer espontaneamente. Não pode sobrevir espontaneamente quando desejado". O que era anteriormente somente uma dificuldade, pode tornar-se um problema com possível dependência de drogas e medicações soníferas; "e cada uma dessas providências, em lugar de resolver, só faz intensificar o problema ainda mais".

Diante de um problema já tornado crônico, é muito interessante saber quais as soluções já tentadas para solucioná-lo. Tais soluções, já está mais que comprovado, não são capazes de produzir a mudança desejada, são tentativas errôneas que em certas circunstâncias produzirão problemas maiores.

Na próxima postagem farei a analogia de tudo que disse aqui e a gagueira. Acredito que vocês estejam pensando nas soluções que possuem para não gaguejar. Gostaria que elas fossem relatadas nos comentários. Deixe uma mensagem contando o que faz/fez para deixar de gaguejar. Conto com sua participação. Agradeço.

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