09 abril 2010

Gagueira Tem Cura?

O saite IFONO - Fonoaudiologia em Ação, divulgou em sua coluna "Mito ou Verdade" que é mito afirmar que gagueira não tem cura. Para embasar essa afirmação solicitaram a participação da Fga Dra Silvia Friedman. Segue o texto:




Embora existam profissionais que considerem a gagueira uma patologia incurável, mas com controle, há quem sustente que ela tem cura sim.

A visão de que a gagueira não tem cura está apoiada na hipótese de que sua causa é orgânica. Com base nisso, cientistas têm investigado aspectos neurológicos e genéticos que possam explicá-la. Nenhuma pesquisa, entretanto, chegou, até o momento, a uma resposta conclusiva que demonstre de modo irrefutável o quê, no organismo, explica a gagueira.


Como existem outros modelos, além do orgânico, por meio dos quais o conhecimento científico pode ser construído, há quem pesquise como a gagueira se constitui a partir da “vida de relação”. Este tipo de pesquisa está apoiado na compreensão de que nossa vida em sociedade e as relações que estabelecemos com os outros podem imprimir marcas em circuitos neuronais, sem que o corpo tenha qualquer predisposição prévia para tal; marcas que influenciam o modo de ser da pessoa: seus pensamentos, sentimentos e ações.


As duas marcas que se revelaram nas pessoas com gagueira estão associadas entre si: uma imagem negativa de falante e um funcionamento discursivo desviante.


A imagem negativa de falante tem sua origem numa visão de senso comum que considera a fluência como sendo absoluta, ou seja, sem lapsos, pausas ou disfluências, e leva as pessoas (na família, na escola) a rejeitarem o padrão disfluente na fala infantil. Em decorrência disso, a criança passa a querer evitar ou esconder esse padrão, recorrendo à materialidade da língua. Ou seja, passa a supor em que lugar da frase estará a palavra disfluente, geralmente, a mais importante; por exemplo, se tem que dizer seu nome, suporá que é aí que ocorrerá a disfluência. E sendo a disfluência indesejada, essa suposição trava seus movimentos articulatórios para impedir a palavra de sair. A trava, por sua vez, faz parecer que, de fato, o falante sabia onde a disfluência ocorreria, o que perpetua a previsão. Com o tempo, ele cria novas estratégias para atingir a fluência; embora geralmente funcionem, elas também enchem a fala de comportamentos bizarros.
Com base nesse tipo de compreensão, que mostra o funcionamento subjetivo da gagueira, uma abordagem terapêutica que construa um novo sentido para a imagem de falante de uma pessoa gaga e modifique o funcionamento subjetivo aqui descrito tem demonstrado ser eficaz para curá-la.

Vale a dica: A rejeição à fala da criança disfluente frequentemente se materializa por frases do tipo “calma, pense antes de falar, respire”, que em nada ajudam a criança a falar sem disfluir, mas fazem com que entenda que não falou adequadamente; que o modo como fala desagrada. Assim, se você conhece uma criança ou pessoa que seja disfluente, não a interrompa, nem antecipe suas falas, nem peça para ter calma ou respirar melhor. Mantenha-se atento ao diálogo, respondendo ao que ela tem a lhe dizer, porque quem diz algo quer resposta a isso, e não ao seu modo de falar.

*Por Silvia Friedman, fonoaudióloga, docente da PUC-SP, doutora em Psicologia Social e responsável pelo site http://www.gagueiraesubjetividade.info/.



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Um pouco sobre o saite IFONO - Fonoaudiologia em ação:


É organizado pelas Fonoaudiólogas Cláudia Perrota e Lúcia Masini, bem como pelo Fonoaudiólogo Jason Gomes. Desde 1988, o IFONO desenvolve um trabalho fonoaudiológico diferenciado, marcado pela trajetória que visa desmistificar a ideia de que há um modelo de desenvolvimento e apreensão da linguagem. O IFONO procura encorar as pessoas a fazer uso efetivo de sua linguagem no contidiano, superando inibições , preconceitos e tentativas de exclusão social.


Vale a pena acompanhar as publicações desse grupo, bem como assistir aos filmes indicados com frequência.

8 comentários:

Fono Em Foco disse...

Olá Wladimir, maravilhoso este texto da Dra Silvia Friedman.. ja o conheço do site da IFono... Bem, estou passando para agradecer seu comentário e por incentivar a visita ao meu blog!

PS. Acho que sem querer acabei apagando seu comentário (ou seria alguma confguração?) seja como for agradeço pela ajuda. Um abraço, Dirlene

Fono Em Foco disse...

Oi Wladimir, estou passando pra inforar ue o endereço do meu blog mudou agora é: http://fonoemfoco.blogspot.com/
Abraços...

Fono Em Foco disse...

Ah, não esqueça de alterar endereço, na indicação de visitação... Ah! mais uma coisa, add a ferramenta seguidores, como vc sugeriu.. abraços..

Anônimo disse...

como faço para me comunicar copm vc?
meu e-mail é
camiladiasn@gmail.com
mila_diasn@hotmail.com

por favor, me resposta para que eu possa manter contato com vc.
Agradeço mto!

Anônimo disse...

Wladimir, bom dia!

Sou gago e já fiz tratamento com uma terapeuta que seguia a filosofia de tratamento da Dra. Silvia; na verdade, foi o inverso - eu conheci a filosofia por meio de livros e sites, e aí procurei alguma terapeuta indicada. O tratamento foi semi-produtivo, e em algum ponto ficou claro para mim que a terapeuta, especificamente, ainda estava pouco capacitada e tinha pouca maturidade para lidar com algumas questões que apareceram (aliás, só não divulgo meu nome justamente para não expor a terapeuta a uma situação desconfortável). Mas ainda acho que toda a teoria faz muito sentido e o caminho para uma vida melhor com a gagueira é se aceitar, é parar de evitá-la a todo custo, para que todo o círculo vicioso da imagem de bom falante apareça.
O motivo de eu estar escrevendo é: a Dra. Silvia tem algum site ou alguma forma de contato? Sei que ela não atende mais, mas eu gostaria de estar em contato com textos que ela produz, de vez em quando poder escrever para ela com alguma questão específica etc.

muito obrigado

Wladimir Damasceno disse...

Anônimo,

Silvia ainda atende. Voluntariamente em uma ONG e particularmente tbm.

A página dela é: http://www.gagueiraonline.info/index.htm

Se desejar saber o email dela entre em contato comigo: wladimirdamasceno@gmail.com

Abraços.

Anônimo disse...

Olá...Faço Fonoaudiologia estava pesquisando sobre gagueira... Achei o seu site... Ele é muito bom...

Anônimo disse...

olá sou angolano e vivo cá em Angola, então eu sou gago mas penso que é adquirida porque tem vvezes que reduz. isto me incomoda muito, não consigo desenvolver boas palavras quando estou discursando. ou conversando com alguem. por favor ajudem-me com este problema. enviem dicas no meu email, de como melhorar a minha situação. bapolosantos@hotmail.com