Gagueira sob uma perspectiva que articula linguagem, subjetividade e sociedade.
22 julho 2005
A Gagueira e a Técnica de Alexander
Há pouco tempo, comprei o livro "O Aprendizado do Corpo - Introdução à Técnica de Alexander", de Michael Gelb. A compra foi motivada por um comentário que surgiu no Grupo Gagueira. Não me recordo ao certo o que foi dito sobre o livro, talvez algo relacionado a uma mudança de postura, de hábitos para alcançar determinado objetivo. Talvez o comentário tenha sido neste sentido, porque foi isso o que eu pude sentir do livro.
Frederik Matthias Alexander, australiano, nascido em 1869, amante de cavalos e teatro, aos vinte e poucos anos decidiu dedicar-se à carreira de ator e declamador, ocupações nas quais logo ganhou excelente reputação. Era especializado em apresentar, sozinho, quadros dramáticos e humorísticos, sempre com grande ligação com Shakespeare. Porém, ele apresentava uma tendência persistente à rouquidão e problemas respiratórios, prejudicando a qualidade de sua voz durante os recitais. Após procurar ajuda de médicos e professores de impostação de voz, ele começou a se observar e questionar seus comportamentos. Percebeu que o problema aparecia somente quando declamava. Nos momentos de fala do dia-a-dia nada acontecia. Colocou-se frente a um espelho e quando começou a declamar percebeu três coisas: enrijecia o pescoço, fazendo com que a cabeça se retraísse; forçava excessivamente a laringe para baixo; e aspirava o ar de uma forma ofegante. Concluindo que tais comportamentos eram os responsáveis pelo seu problema, decidiu tentar evitá-los. Com isso, a qualidade de sua voz havia melhorado. Desenvolvendo, com o passar do tempo, a Técnica de Alexander.
Se você for pesquisar sobre esta técnica, perceberá que ela está muito voltada para pessoas com problemas nas costas, rigidez no pescoço, asma, dores de cabeça, na intenção se ter uma reeducação corporal, de postura. Então talvez você esteja se perguntando: “por que Wladimir trouxe este assunto pra este blog que fala sobre gagueira?” Respondo da seguinte maneira: o livro leva as pessoas a se observarem (no meu caso, adaptei à minha gagueira), verificando os hábitos e costumes que desenvolvem de maneira quase que automática. Comportamentos estes que muitas vezes são as causas do problema. Percebi que o problema deve ser combatido no meio e não no fim. Modificando-se o que gera, combate-se a conseqüência. Para vencer a gagueira, é necessário romper com antigos hábitos. Com este pensamento destaquei algumas partes do livro:
“A função principal do intelecto é controlar a eficácia do hábito e determinar onde devem se feitas as mudanças.”
“O intelecto pode tornar-se um auxiliar competente, ao invés de patrão incompetente.”
“O corpo é nosso instrumento para a realização de nosso objetivo no mundo. Esse instrumento pode ser grosseiro e pesado ou harmonioso e receptivo – cabe a nós escolher.”
“Alexander percebeu que seu problema vocal não era simples resultado inadequado de seu mecanismo vocal, mas era causado por uma resposta de seu corpo como um todo.”
“As informações de que ‘tudo está bem’ são recebidas pelo cérebro quando, na verdade, tudo vai mal.”
“É uma questão de recusar-se conscientemente a reagir de uma forma estereotipada, para que a verdadeira espontaneidade possa então manifestar-se. Como pode acontecer o certo se estamos fazendo sempre o errado? Obviamente, é preciso, antes de mais nada, parar de fazer o errado. Isso é muito fácil de compreender, mas muito difícil de ser colocado em prática.”
“Sei que, quando estou estressado, começo a apresentar alguns padrões habituais de reação. (...) Algumas horas antes, percebi que o padrão estava começando a tomar conta de mim. (...) Desta vez percebi-o antes que a adrenalina começasse a fazer-me latejar, e fui capaz de dizer ‘não’.”
“A prática contínua levou-o, finalmente, ao ponto em que sua instrução consciente e racional passou a dominar sua instrução irracional e instintiva.”
“Precisamos até mesmo parar de pensar em ficar eretos. Pensar nisso é fatal, pois ao fazê-lo associamo-nos à idéia de prática de um hábito de postura errada já estabelecido. (...) Precisamos começar a fazer outra coisa que, por um lado, nos iniba de ficar na postura incorreta habitual e que, por outro lado, seja o início de uma série de atos que possam levar-nos à postura correta.”
Na próxima postagem, eu tentarei expor a minha analogia entre a gagueira e a Técnica de Alexander.
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