07 outubro 2005

Forte e Fraco

A postagem de hoje é uma mensagem da Fga. Daniela Zackiewicz destinada a L. e K. que solicitaram ajuda na Lista Gagueira (endereço na coluna à direita), tendo em vista atravessarem momentos críticos com seus filhos. O texto está sendo publicado com o consentimento da autora. Eu o considero muito bonito, profundo, emotivo e de sensibilidade única. Talvez auxilie outros pais.

L. e K.
Tudo bem?
Como falei anteriormente, sou fono com mestrado e experiência clínica em gagueira. Meu marido apresenta gagueira e minha filha começou a apresentar também há 1 ano. Como trabalho com isso, eu tinha as informações prontamente sobre o que a família deve e pode fazer para ajudar a criança. Mas os livros, embora considerem muito o aspecto familiar da gagueira na infância, não consegue traduzir a dor, a angústia, o sofrimento, a impotência de você ver sua filha, que até o dia anterior apresentava algumas repetições no início da fala, sem tensão, sem comportamentos de evitação, de antecipação, conseguindo se expressar da forma mais linda e feliz que só uma criança pode fazer. De repente, aparecem os bloqueios, que duravam segundos intermináveis, a mãozinha levada à boca, mordendo os dedos, o olhar fixo cheio de lágrima. Um dia depois quase não queria mais falar... só apontava pra pedir as coisas... às vezes olhava pra mim com um olhinho assustado e falava “mamãe, eu não consigo mais falar”. Eu e meu marido esperávamos ela ir dormir para que pudéssemos chorar.

Foi a pior experiência da minha vida... Sentir a dor de um filho sofrendo...

Desde o início das primeiras repetições que ela apresentou nós já tentamos fazer algumas modificações em casa: deixamos os horários mais flexíveis, diminuímos as atividades fora de casa, priorizamos também brincadeiras não-verbais (o que é difícil de se fazer quando se tem um criança super falante) e procurávamos checar se estávamos dando tempo para ela se expressar, se havia momentos em que ela precisava competir pela nossa atenção...enfim, uma série de considerações que encontramos atualmente com bastante facilidade na literatura específica.

Mas duas coisas foram essenciais para nós nesse momento: A primeira foi a de reagir adequadamente ao problema. Adequadamente não quer dizer, como muitos pensam, apenas ignorando a gagueira e prestando atenção no conteúdo. Sim, isso é super importante mas se no momento a gagueira for algo que não está impedindo a criança de falar. Agora se a criança está num momento de sofrimento, sem conseguir falar, mordendo a mão, chorando... é impossível não reagir!!!!!

No consultório eu trabalho com técnicas de promoção da fluência, cujo início é você contrapor o forte (gagueira – bloqueio) e o fácil (fala relaxada). Tendo esse princípio em mente, quando a minha filha começou a ter bloqueios muito fortes eu reagia sim à gagueira, olhando pra ela e dizendo “filha, a mamãe sabe ... está difícil de falar, né? Você está falando forte... não tem problema... você está aprendendo a falar...”

O segundo aspecto foi uma intervenção imediata - dois dias depois que ela estava nessa gagueira muito grave eu iniciei uma intervenção fazendo-a perceber o que era forte e o que era fácil em movimentos motores (jogar uma bola, apertar o meu dedo) e na fala (ex: bola, falando apertando os lábios bem forte e, depois, suavemente). Isso era feito de forma bem simples, uma ou duas vezes por dia, em situações agradáveis, de brincadeira, para que ela percebesse “sozinha” que havia o jeito forte e o jeito fácil de fazer e, para que usasse “espontaneamente” esse padrão na fala. Ela começou, após alguns dias, a nomear: “mamãe falei forte” e, em outros momentos eu nomeava “nossa, como você falou fácil...”, ou ainda “nossa, esse foi forte, quer tentar falar fácil?”

Hoje faz aproximadamente um ano que a gagueira começou. Nesse tempo teve dias, semanas totalmente fluentes e períodos de gagueira. Mas ela conseguiu estabelecer uma reação imediata à gagueira. Ela suaviza e o bloqueio acaba passando sem esforço para vencê-lo. Às vezes ela ainda fala “mamãe, falei fácil”, mas com um sorriso no rosto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ôpa! Vi este blog no orkut! Gostei mt! tb sou gago; passarei a lê-lo sempre q puder =D
Obrigadao!