29 agosto 2006

Mensagem ao Gago - Parte I de III

A postagem de hoje, bem como as duas seguintes, eu as considero extremamente importante para todas as pessoas que gaguejam e que procuram um rumo, uma orientação para melhorarem sua forma de falar. Já no primeiro parágrafo, percebe-se que o autor (Joseph G. Sheehan, Ph.D.) conhece o assunto de maneira íntima. Justamente em virtude disso, ele traça algumas premissas extremamente interessantes que com as quais, de acordo com as palavras do autor, "as pessoas dispostas a começar na direção correta podem progredir muito por si mesmas." Creio que o texto também seja muito interessante para fonoaudiólogos que desconhecem como tratar eficazmente a gagueira.

Como dito anteriormente, por ser um texto relativamente longo, dividirei-o em três partes. Postarei uma hoje, a outra quinta-feira e a
última no sábado.

O texto original foi traduzido para o espanhol por Luísa Elena Pachano e revisado e adaptado por Pedro R. Rodrigues C. Do espanhol para o português foi traduzido por Silvia Friedman. Inclusive o texto foi extraído do livro Gagueira e Subjetividade - Possibilidades de Tratamento de Silvia Friedman e Maria Cláudia Cunha.

Espero que gostem!

Mensagem ao Gago

Joseph G. Sheehan, Ph.D.

Se sua experiência como gago é parecida com a minha, você perdeu boa parte de sua vida ouvindo conselhos e sugestões tais como: “relaxe, pense no que tem a dizer, tenha confiança, faça uma respiração profunda.” Ou, então: “fale com pedras na boca.” Por ora, você deve ter aprendido que essas coisas não somente não ajudam, mas que algumas delas o fizeram piorar.

Essa é uma boa razão pela qual todas essas teorias legendárias caíram. Todas significam reprimir a gagueira, encobrindo-a, fazendo coisas e movimentos artificiais. E quanto mais você encobrir e tratar de evitar a gagueira, mais gaguejará.

Sua gagueira é como um bloco de gelo, a parte na superfície é o que as pessoas ouvem e é realmente a parte menor. A parte maior é a que está abaixo da superfície, na qual se encontra a vergonha, o temor, a culpa, e todos os sentimentos que temos quando tratamos de falar ou dizer uma frase simples e não podemos.

Você, como eu, provavelmente tratou de manter esse bloco de gelo em baixo da superfície o maior tempo possível. Tratou de encobrir e manter a aparência de pessoa que fala com facilidade e, apesar de ter longos bloqueios e pausas demasiado penosas, tanto para você como para pessoas que o ouvem, isto é muito difícil de ignorar. Você deve estar cansado de representar esse falso papel. Igualmente, quando produz movimentos supérfluos você não se sente bem com eles. Quando seu truque falha, você se sente muito mal. Mesmo assim, provavelmente você não se dá conta de quanto foge ou quanto encobre no círculo vicioso da gagueira.

Em laboratórios de psicologia e de linguagem, descobrimos a evidência de que a gagueira é um conflito, um tipo especial de conflito entre ir pra frente e manter-se no anterior; é um conflito de aproximação e evitação. Você quer falar, mas esse querer falar está competindo com um temor que o obriga a ficar calado. Tanto para você como para outros gagos, o temor tem diferentes níveis e origens, o mais imediato e opressor é o temor de gaguejar e isso provavelmente é secundário a qualquer outra coisa que aquilo lhe causa, em primeiro lugar, o fato de gaguejar em si.

Seu temor de gaguejar está baseado na pena e no ódio que causam a forma como você fala. O medo está também baseado em desempenhar um falso papel pretendendo não ser gago. Você pode fazer alguma coisa com esse temor. Se tem valor suficiente para fazê-lo, você pode se abrir para a gagueira por cima da superfície do bloco de gelo. Pode aprender a seguir em frente e falar de qualquer maneira, mas encarando o temor. Em resumo, você pode ser você mesmo e perder a insegurança que se apossou do seu ser. Você pode reduzir a parte do bloco que está abaixo da superfície e esta é a primeira coisa a fazer.

Continua

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