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Primeira Pergunta:
Anelise, com relação às causas neurofisológicas tenho lá minhas dúvidas ainda com relação a este ponto. As neuroimagens mencionadas em seu texto, creio que foram fotografadas de cérebros de indivíduos adultos que gaguejam. Para uma pessoa que gagueja, como você sabe, falar não é simplesmente "abrir a boca e falar". Falar envolve uma série de fatores como o julgamento do interlocutor, de si mesmo como falante, se vai conseguir transmitir a mensagem, etc. Creio que todos esses pensamentos juntos devam interferir no momento da captação da neuroimagem. Logo, em minha primeira opinião, a imagem não seria um sinal de uma falha de determinada área do cérebro, simplesmente. O que comprovaria, em minha opinião, a deficiência na ativação normal do lóbulo temporal do hemisfério esquerdo, seria esta detectação antes mesmo do individuo, ainda criança, apresentar sinais de gagueira. Portanto, gostaria de saber se essas imagens já foram detectadas/estudadas neste grupo de pessoas. Agradeço.
Primeira Resposta:
Olá Wladimir, gostei muito desta tua pergunta. Ela me dá a oportunidade de entrar um pouco em assuntos que são mais complexos, e que requerem uma linguagem um pouco mais técnica do que a pretendida pelo Fórum.
Primeiro, como bem podes imaginar, é muito difícil fazer pesquisa de neuroimagens em crianças. Precisa haver concordância da família, a criança precisa ser submetida a uma série de procedimentos complexos, a captação da imagem através da ressonância magnética funcional exige que o sujeito se mantenha o mais imóvel possível dentro de um tubo, receba contrastes específicos, entre tantos. Nada disso é muito facilitador. Os cientistas têm desenvolvido técnicas que mostram a atividade cerebral de crianças com e sem gagueira, para efeitos de comparação, através de formas menos invasivas, como o eletroencefalograma (EEG) e a magnetoencefalografia (MEG).
As investigações têm focado aspectos como lentidão de maturação cerebral, assimetrias de hemisférios, e mudanças de atividades neuronais durante estados de hiperventilação e repouso. Diferenças significativas nestas áreas têm sido relatadas na literatura, especialmente nas regiões parieto-ocipital e fronto-central do cérebro, na comparação entre cérebros de crianças com e sem gagueira.
Essas investigações vão em busca de diferenças em cérebros ainda em crescimento, justamente para se tentar achar algumas respostas para perguntas como a que fazes. Uma das mais instigantes é saber se as diferenças fisiológicas vistas nas comparações entre adultos com e sem gagueira, são provocadas pela gagueira ao longo do tempo ou se estão lá desde sempre.
Como o cérebro aprende por repetição, alguns pensam que de tanto gaguejar, a gagueira faz lá suas "marcas". Outros dizem que se os aspectos genéticos são significativos no aparecimento da gagueira, então essas marcas já estariam lá.
Claro que nada em gagueira é assim tão simples e definido. A quantidade de fatores intervenientes é muito grande. Por isso, sempre é bom lembrar que, para que a fala seja fluente é necessária uma sincronia muito fina entre todos estes aspectos. E esta sincronia começa num comando central, que está no cérebro.
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Segunda Pergunta:
Nadia, em sua opinião, por que é que uma pessoa que gagueja, não gagueja em determinadas situações, como por exemplo quando está sozinha, diante do espelho, com crianças, animais e quando estão bem seguras de si? - O que ocorre, também, quando a pessoa desenvolve certas crenças de que gagueja quando fala palavras começadas com determinadas letras, por exemplo? Como modificar esta crença? Agradeço pela atenção.
Segunda Resposta:
Oi, Wladimir,
Sob a ótica da Análise do Discurso, as situações que você descreve e muitas outras são condições de produção geradoras de fluência que, é claro, dependem da história de cada pessoa. Em princípio, o ouvinte não crítico, como a criança ou o animal não traz o efeito da gagueira, porque está claro que este interlocutor não colocado na posição de quem julga e rotula a pessoa que gagueja.
Uma outra questão é a crença na inabilidade articulatória, como você indica. A pessoa j chega à clínica com uma lista de “impossibilidades de dizer” e identifica sons e palavras que, em princípio, considera improváveis de serem articulados. Ao mesmo tempo, fala muito bem estes fonemas e palavras em seu relato. Isto necessita ser enfocado e trabalhado cuidadosamente na terapia fonoaudiológica, porque é a partir da quebra destas metáforas que o trabalho discursivo se dá.
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Terceira Pergunta:
Polyana, partindo-se do ponto que o corpo também é simbólico, como você afirmou em seu texto, como poderemos transformar um corpo simbólico "negativo" em um corpo simbólico "positivo"?
Terceira Resposta:
A transformação se dar dentro de um processo terapêutico no qual o que se fala está ligado com o corpo-fala. Para a clínica fonoaudiológica não-tradicional, a terapêutica não é prescrever exercícios, reeducar o movimento, modelar o comportamento, embora tais procedimentos possam ser abraçados por falantes que gaguejam em busca de uma solução para a gagueira. Não há problema nisso, pois nenhuma clínica dá conta, totalmente, da complexidade do humano. Em outras palavras: toda e qualquer clínica é sempre para alguns.
A clínica comprometida com o sujeito-linguagem, não negligencia o corpo, pois ele é a instância material onde a palavra (gaguejada/fluente) se inscreve, faz seu movimento, surpreende (porque se esperava gaguejar e não aconteceu), trai (porque se esperava falar fluentemente e a gagueira surgiu).
O que ela defende é que na abordagem do corpo-fala (voz, respiraão, musculatura, fonoarticulaão, tensão-soltura, som-silêncio, etc etc) busca-se a desalienaão da fala gaguejada, remetendo o dizer de uma forma que falha para formas de fala, produzindo sentidos (sempre singulares), dando sustentaão ao sofrimento (de quem gagueja e vive numa sociedade onde a ética e o respeito estão bastante fragilizados) e curando, no sentido de contrastar com o que se vivia antes, de libertar, de não mais se prender na/pela gagueira.
São efeitos que se produzem no corpo simbólico do sujeito-linguagem, para que a gagueira não mais se perpetue...... "e eu fiquei assim, calado, sem latim, coisas da vida" (Milton Nascimento).
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Quarta Pergunta:
Sandra, parabéns pelo seu trabalho. Gostaria de questioná-la em alguns aspectos do seu texto. - Como é que ficou comprovada a deficiência neurofisiológica de determinadas partes do nosso corpo? Como foram realizados os testes e a pesquisa com a população a ser estudada? Em quais situações de fala elas eram analisadas? - Seria possível a detecção desta deficiência em uma criança, mesmo antes desta apresentar qualquer sinal de gagueira? - Como seriam receitados medicamentos para combater a gagueira? Em quais situações a pessoa deveria fazer uso deles? Gera dependência? Agradeço a atenção.
Quarta Resposta:
A hipoativação dos núcleos da base foi demonstrada através de exames de neuroimagem funcional. Estudos compararam as ativações encefálicas de pessoas com e sem gagueira durante atividades indutoras de fluência (como cantar e ler em coro). A diferença de ativação estava justamente nos núcleos da base (principalmente no estriado), o qual, mesmo durante fluência induzida, permanecia pouco ativo.
Estudos farmacológicos também vêm sugerindo alterações nos núcleos da base, porque as drogas que melhoram ou pioram a gagueira tendem a ser drogas que modificam direta ou indiretamente a concentração de dopamina (o principal neurotransmissor nos núcleos da base).
A hipótese para o envolvimento dos núcleos da base na gagueira é relativamente recente, sendo que ainda não se discutiu a possibilidade de detectar a alteração em crianças que não desenvolveram gagueira. Mas penso que, neste sentido, talvez o marcador seja a própria dopamina.
Diversos medicamentos já foram testados para a gagueira, mas ou não surtiram efeitos positivos ou os efeitos colaterais impossibilitaram o uso a longo prazo. Neste momento, o medicamento em fase de testes é o pagoclone. Caso o pagoclone realmente se mostre uma droga eficaz e segura, os critérios para receitar o medicamento provavelmente virão dos estudos que ainda estão sendo executados. Em termos gerais, já se demonstrou que estimulantes de dopamina tendem a melhorar a fluência de pessoas com gagueira pura, enquanto que bloqueadores de dopamina tendem a melhorar a fluência de pessoas com gagueira e taquifemia. Ou seja, neste caso, o diagnóstico clínico seria um dos guias para a seleção da medicação; entretanto, sabe-se que os estimulantes geram dependência e os bloqueadores produzem efeitos colaterais indesejáveis.
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Quinta Pergunta:
Silvia, sua teoria aborda muito a questão de crenças, valores e auto-conceito. Diante desta situação, como você analisaria o uso da Programação Neurolinguística em terapias fonoaudiológicas?
Quinta Resposta:
Sobre como o uso de teorias da Programaão Neurolinguística em terapias fonoaudiológicas, de modo geral, penso que não se pode fazer os já bastante criticados empréstimos de teoria para aplicaões pouco fundamentadas. Do ponto de vista da minha proposta, que fundamenta de modo detalhado o funcionamento subjetivo e discursivo do modo gaguejado de falar, penso que a abordagem da Programação Neurolinguística faz bastante sentido e ela me serve de apoio para o manejo terapêutico no modo como ela está formulada por Bandler e Grinder por exemplo, no livro Sapos em Príncipes, da editora Summus.
Um comentário:
Podem me xamar de amigo.
Eu tenho um problema na fala, eu estou falando e derepente a voz vai sumindo ou ficando roca, a maioria das vezes ela fas isso, ja consultei um otorino, ele fez um exame chamado laringoroscopia e dise que esta tudo normal apenas minha corda voacal esta um pouco aberta, e que eu vou ter que fazer um tratamento com fonodio..., depois que eu fazer esse tratamento minha voz podera fala podera voltar ao normal?
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