"2 - O estudo da gagueira permite-nos ver que existem relações de mútua determinação entre a manifestação motora (atividade articulatória), os conteúdos psíquicos (movimento cognitivo e afetivo da consciência no qual está contido também o território inconsciente ou latente) e as relações sociais (relações de comunicação perpassadas pela “ideologia do bem falar”). À luz da compreensão das características dessas relações de reciprocidade e múltipla determinação, podemos compreender um pouco melhor a natureza e o desenvolvimento da manifestação da gagueira na qual existe tensão muscular. Nas características dessas relações, ainda, encontraremos os elementos e caminhos norteadores para a sua superação."
Manifestação motora, conteúdos psíquicos e relações sociais, segundo Sílvia Friedman determinam-se mutuamente. Não há como separar esses três aspectos ao se estudar a manifestação da gagueira que apresenta tensão muscular. A manifestação motora é o aspecto visível, é a aparência externa da gagueira do ponto de vista articulatório (repetições, prolongamentos, hestitações, bloqueios, movimentos corporais associados, entre outros). Por não aceitar o padrão articulatório, vivido de forma significativa ao longo do tempo, o sujeito desenvolve, em sua cognição/consciência uma "imagem de mau falante" (que prever o gaguejar e tenta evitar; sabe que irá gaguejar, mas não quer gaguejar; tenta falar bem, enquanto acredita que não o fará. FRIEDMAN, 2002). Esta imagem está intimamente ligada à "ideologia de bem falar". Termo criado por Friedman para representar a regra imposta nas relações sociais, onde todos devem falar perfeitamente bem, não sendo aceitável o padrão articulatório do indivíduo com gagueira, por exemplo. Esta não aceitação pode ser tanto da sociedade quanto do próprio sujeito. O fato de não aceitar o padrão articulatório, leva o indivíduo a tentar o espontâneo (a fala), gerando mais tensão nesta articulação, afastando-a do padrão idealizado. O que reativa a não aceitação e o indivíuo fica sem ter como sair deste círculo vicioso, pois como bem afirma Sílvia "é movido por um desejo impossível de ser alcançado dentro do movimento de consciência que determina sua atividade de fala".
(continua)
17 comentários:
estou acompanhando.
Parabéns, pelo nível de análise e discussão que você propôe.
Mariângela, que honra tê-la acompanhando as discussões deste blog. Ainda faltam quatro partes. Vamos a elas...
Conheço um amigo que tem gagueira anagnósica. Ou seja, ele tem gagueira, mas estranhamente não possui a consciência do problema. Se você adverti-lo dizendo para parar de gaguejar, ele fará uma cara momentânea de espanto e perguntará "gaguejando? como assim?".
Depois de ler o texto do post, fiquei confuso, porque tudo indica que a anagnosia do meu amigo em relação à gagueira impediu que ele construísse uma imagem de "mau-falante" para si (surpreendentemente, ele até demonstra uma enorme satisfação enquanto fala).
Por isso, gostaria de perguntar: Como se aplicaria a teoria aqui exposta ao caso da gagueira anagnósica?
Quanta balela!
Wladimir, vai encher bem lingüiça assim lá na salsicharia do meu avô. É ridículo defender uma tese referendada por apenas uma pesquisadora.
Eita país atrasado em ciência esse nosso.
Passei dois anos me tratando com uma fono que usava essa teoria da Friedman e me ferrei. Fiquei ainda mais insatisfeito com o problema, porque passei a me sentir culpado por tê-lo.
George, é incrível como vemos a ciência somente aquela onde o cientista está enfiado com a cara no microscópio. O trabalho de Friedman também é científico. Digo mais, suspeito enormemente, que o trabalho de Sílvia não seja conhecido mundo afora (Estados Unidos, principalmente), pois se assim fosse a situação seria outra.
George, diante do que você falou, acredito que a fono não seguia muito bem os preceitos da teoria de Friedman. Você chegar a se sentir culpado por ter gagueira, não combina com o que é ensinado pela referida fonoaudióloga. É uma pena muito grande isso ter ocorrido com você, mas o que a teoria nos ensina é justamente aceitar a disfluência como parte da fluência. Desta forma, claro que não tão simples assim, o sujeito cada vez mais deixa as disfluências de lado.
Creio que você não esteja bem atualizado, mas essa teoria não é referendada somente por uma pesquisadora. Conheço outras pesquisadoras e outras fonoadiólogas que na prática clínica confessam o sucesso desta teoria. Além de tudo isso, eu sou um exemplo deste sucesso. Não ter ocorrido com você o mesmo, é uma pena!
No mais, amigo, se não está satisfeito com o que digo, não precisa vir com palavras baixas. Pois você me agride quando afirma que estou falando balela e enchendo lingüiça bem. Se não está gostando, faça diferente. Melhor do que ser oposição é ter posição.
Atenciosamente.
Joaquim, não conheço o termo utilizado por você. Conheço sim, a gagueira psicogênica. Nesta gagueira o sujeito não tem consciência do problema, creio ser a deste tipo que você se refere.
Acesse este endereço (http://www.gagueira.org.br/gagueira.shtml) e veja se é isso mesmo.
A teoria de Sílvia Friedman é somente para a gagueira do desenvolvimento, a que surge na infância, a mais conhecida.
Quero sugerir ao George que visite o site Gagueira-Novos Paradigmas http://paginas.terra.com.br/saude/
fluencia
e leia o tópico DEPOIMENTOS.
Acredito que pode esclarecer algumas de suas dúvidas sobre a eficácia da terapia proposta pela Dra. Silvia Friedman, que não é uma pesquisadora solitária. Ela tem muitos seguidores e apoiadores no Brasil e no exterior, sendo convidada com freqüência para dar cursos em vários países.
Wladimir, era a própria fono com a qual eu inutilmente me tratei que dizia seguir a teoria da Friedman. Talvez ela não tenha aplicado direito os ensinamentos porque a teoria é muito confusa mesmo.
Acho que às vezes nem a Friedman sabe direito o que está falando. Como disse um outro visitante do blog, a teoria dela está mais para esoterismo do que pra ciência.
Só fazemos bom uso do que conhecemos, quando acreditamos nele.
George, abro espaço neste blog para você escrever uma postagem expondo todas as suas dúvidas e insatisfações a respeito do trabalho de Friedman. Você pode também falar um pouco sobre a terapia que você realizou.
O convite está feito para você e para outros também. Quem aceitar o convite, basta deixar nos comentários o email que eu entro em contato.
Após isso, solcitarei que uma fonoaudióloga especializada em gagueira, que siga a linha mencionada, escreva outra postagem tirando suas dúvidas e, quem sabe, também as insatisfações.
Abraços.
George
A questão sobre melhor ou pior teoria é muito relativa e pessoal.
Uma pessoa deve e pode optar pelo que mais lhe convier.Não é assim quando vc procura um médico, ou um psicólogo? Existem várias linhas de trabalho e as pessoas se identificam com alguma e se dão bem, ou não.Tem espaço pra todos!
Na fonoaudiologia é assim também.Posso assegurar que, como terapeuta de gagos, tenho muito sucesso com meus clientes. Mas isso dependeu da minha opção, meus estudos, dedicação e experiência.
Dizer que segue Silvia Friedman é um discurso muito comum, mas saber como agir na prática, exige maiores conhecimentos, tanto de psicologia, como de linguística, como de técnicas de comunicação eficazes para situações de conflitos paradoxais.Não é nada fácil, não! Nem é mágica! Mas dá certo!Se fôr bem feito.
Infelizmente o seu caso não foi satisfatório. Que pena! Insisto: visite nosso site e veja os depoimentos que estão lá.
Dois anos de terapia é um tempo longo!Conseguimos mudanças em menor espaço de tempo.Mas isso também varia de pessoa para pessoa. Então acredito que, realmente, alguma errada aconteceu no seu processo. Mas não desista!
Um abraço
O que você propõe aqui, Mariângela, é mais ou menos como querer fazer uma pessoa com TOC esquecer de sua obsessão apenas com terapia cognitivo-comportamental. Se no TOC já é muito difícil conseguir isso sem a associação de uma intervenção farmacológica, suspeito que na gagueira a dificuldade seja semelhante ou pior.
Ricardo, a literatura está repleta de casos de sucesso que não precisaram de intervenção farmacológica. Basta ler pra ver e, quem sabe, crer.
Vou relatar alguns casos aqui, futuramente.
Ricardo,
eu não proponho nada além de comentar sobre o que vivencio em minha pratica terapêutica e acredito que ninguem esqueça uma obsessão, mas sim, que possa modificar seus padrões de pensamento e comportamento.Mas precisa haver uma orientação especializada.Como o Wladimir já escreveu basta ler, ver e quem sabe, crer nos casos de sucesso que temos.
eu tenho 14 anos e tenho proplema de gagueira tem alguma soluçao para parar de gagueijar sem um medico acompanhando,pq eu nao tenho como pagar um fonoaldiologo para me ajudar.
e a minha gagueira sempre vai almentandu,qualquer coisa q eu falo eu gagueijo.
por favor se tiver alguma soluçao,responde.
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