30 dezembro 2007

Buscar o Inacessível, Torna Impossível o Realizável

É muito engraçado como a gente não se reconhece falando "fluentemente". Por que será que isso ocorre? Temos o constante desejo de falarmos bem, quando conseguimos não acreditamos. É algo meio paradoxal em sua essência. Essa questão tem uma outra por trás que nós devemos pensar também. Não devemos desejar a fluência, pois quanto mais a desejamos, menos a conseguimos. Quando desejamos algo, temos que tentar para alcançá-lo. Quando esse algo é espontâneo/natural temos um resultado oposto ao desejado.

Tomando como base Watzlawick, imaginemos uma pessoa atacada de insônia. Esta coloca-se tipicamente num paradoxo de tentar provocar um fenômeno natural e espontâneo que é o sono, mediante tentativas e força de vontade e permanece acordada. Algo semelhante ocorre também com a excitação sexual e orgasmos. "São fenômenos naturais; quanto mais forem desejados, tanto menos provável será ocorrerem". "A própria 'solução' pode constituir o problema".

Na gagueira é mais ou menos assim também. O que mais o sujeito com gagueira deseja é falar fluentemente. Esse desejo é objetivado no planejamento da fala, na troca de "palavras difíceis" por "palavras fáceis", por exemplo. A partir daí o sujeito tentará o que deve ser espontâneo. Além de ser contraditório, a pessoa no íntimo não acredita ser capaz de alcançar o que mais deseja.

A fluência é o fenômeno natural, quanto mais for desejada, tanto menos provável será ocorrer. A solução que encontramos para "resolver" a gagueira, constitui-se no maior problema. Sanderson escreveu em seu blog, que para o sujeito com gagueira falar ocorre mais ou menos o seguinte:

"Pensamento => desejo de falar => aproximação => não confiança na capacidade de falar => controlar a fala <=> tentar controlar o espontâneo <=> medo de falar <=> antecipar <=> esconder a gagueira <=> vergonha de gaguejar <=> auto-pressão para falar dependendo da situação segundo a subjetividade e história social <=> tentativa de fuga, i.e. de calar <=> evitação <=> ansiedade <=> nervosismo <=> sofrimento (angústia, frustração, amargura, culpa, sentimento de inferioridade, baixa auto-estima, constrangimento, embaraço) <=> tensão => bloqueio de cordas vocais => esforço para falar => movimentos corporais na tentativa de falar => gagueira."

Esse modo de falar é a solução encontrada para, muitas vezes, não gaguejar. Como dito anteriormente, essa solução encontrada constitui-se no maior problema. É interessante notarmos que quando esse modo não é construído, a fala flui naturalmente. Cada pessoa é capaz de destacar momentos e situações em que falou bem.

Tudo isso que falei se comprova com depoimentos que tenho lido por aqui e no Grupo Gagueira. É muito comum lermos que "quando mais eu preciso da minha fala, é aí que ela falha". Por enquanto, em diversas outras situações onde nos "desligamos" e não exigimos a fluência, somos fluentes.

Amigos, que em 2008 cada um possa encontrar a verdadeira solução para a gagueira. Feliz Ano Novo!

"Enquanto buscamos o inacessível, tornamos impossível o realizável"
Robert Ardrey

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